Imagem ilustrativa: Provável Estrada Real em Paracatu, no caminho para Goiás em 1970. Ao lado esquerdo, o pasto da Fazendinha do Sr. Pedro Calçado e logo abaixo, o pontilhão.

Por: Carlos Lima(*)

Em um abaixo-assinado datado de 25 de junho de 1877 destinado à própria Câmara Municipal, os vereadores expunham e reclamavam em prol da reabertura da histórica Estrada Real de Paracatu – via de comunicação estratégica entre as Províncias de Minas Gerais e Goiás – especificamente no trecho conhecido como Chapadinha, à margem do Córrego Rico, reza o curioso manuscrito disponível no Arquivo Público Municipal.

Abaixo-assinado que reclamava a reabertura da Estrada Real de Paracatu

Como o Sr. Valério de Sousa Dias obtivera meses antes (em abril daquele ano) da mesma Câmara Municipal parecer favorável ao fechamento da Estrada Real e construção de uma nova via que a substituísse, fizera-a, contudo, com acentuada curva e outras desvantagens citadas no documento em questão: “visto que acha-se diffícil a commodidade dos viajantes não só pela grande volta que a nova [estrada] offerece, como também pela fragúra onde abrirão-a”, reclamaram os vereadores.

verso do abaixo-assinado que reclamava a reabertura da Estrada Real de Paracatu

Consta ainda do raro manuscrito que o cidadão outrora contemplado com a devida permissão da Câmara Municipal para alterar o traçado original da clássica Estrada Real em Paracatu, estava intimado “para dentro do prazo de doze dias desse a estrada pronta e as condições em que se obrigou por termo, e da acta da sessão de 30 de Abril do corrente anno, ou dar trânsito livre pela estrada antiga”.

No topo da imagem, trecho da Estrada Real na Fazenda Bom Sucesso no município de Paracatu, descrita na planta elaborada pelo Agrimensor Pedro Laborne Tavares em 1921

A Estrada Real estava ainda entre as principais vias de comunicação localizadas na Fazenda Bom Sucesso no município de Paracatu. Destaca o agrimensor Pedro Laborne no memorial descritivo da fazenda: “Na estrada real, muito transitada, trafegam carros de bois perfeitamente bem, graças a natureza do terreno”.

Trecho extraído da folha de nº 85 do memorial descritivo elaborado pelo Agrimensor Pedro Laborne Tavares em 1921
No centro da imagem, trecho da Estrada Real na Fazenda Pouso Alegre no município de Paracatu, descrita na planta elaborada pelo Agrimensor Hans Barman em 1923

A histórica Estrada Real também fez divisa com a Fazenda Pouso Alegre no município de Paracatu. No edital de divisão da respectiva fazenda, publicado no Diário Oficial Minas Gerais de 7 de janeiro de 1922 em sua página de nº 8, menciona-se: “O immóvel, que se compõe de terras de cultura e campos, tem as divisas seguintes: Pelo nascente, com terras de herança de José Pedro de Queiroz, pela estrada real de Goyas e pelo poente pela serra da chapada, quando verte para o córrego do Barreiro e Patrimônio […]”.

Diário Oficial Minas Gerais de 7 de janeiro de 1922 cita a Estrada Real de Goiás na divisa com a Fazenda Pouso Alegre em Paracatu

Os documentos por hora referenciados e que ilustram de forma muito criteriosa a existência e a utilidade da Estrada Real em Paracatu, revelam-na, portanto, como um importante elo entre Minas e Goiás, tanto do ponto de vista histórico quanto econômico e social.

Pontilhão sobre o Córrego Rico na Estrada para Cristalina (Provável Estrada Real) na década de 1950.

Carlos Lima é graduado em Arquivologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBa), é Pós-Graduado em Oracle, Java e Gerência de Projeto e é conservador e restaurador de documentos. Elaborou este artigo a partir de suas pesquisas nos fundos documentais do Arquivo Público de Paracatu – MG.

Referências

CÂMARA MUNICIPAL DE PARACATU. Abaixo-assinado para reabertura da Estrada Real de Paracatu. Cx. 20. 1877. 1 fl.

COMARCA DE PARACATU. Processo de Divisão da Fazenda Bom Sucesso. Cx. D-03. 1921. 216 fls.

COMARCA DE PARACATU. Processo de Divisão da Fazenda Pouso Alegre. Cx. D-03. 1921. 476 fls.

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