
Por: Carlos Lima(*)
Em um abaixo-assinado datado de 25 de junho de 1877 destinado à própria Câmara Municipal, os vereadores expunham e reclamavam em prol da reabertura da histórica Estrada Real de Paracatu – via de comunicação estratégica entre as Províncias de Minas Gerais e Goiás – especificamente no trecho conhecido como Chapadinha, à margem do Córrego Rico, reza o curioso manuscrito disponível no Arquivo Público Municipal.

Como o Sr. Valério de Sousa Dias obtivera meses antes (em abril daquele ano) da mesma Câmara Municipal parecer favorável ao fechamento da Estrada Real e construção de uma nova via que a substituísse, fizera-a, contudo, com acentuada curva e outras desvantagens citadas no documento em questão: “visto que acha-se diffícil a commodidade dos viajantes não só pela grande volta que a nova [estrada] offerece, como também pela fragúra onde abrirão-a”, reclamaram os vereadores.

Consta ainda do raro manuscrito que o cidadão outrora contemplado com a devida permissão da Câmara Municipal para alterar o traçado original da clássica Estrada Real em Paracatu, estava intimado “para dentro do prazo de doze dias desse a estrada pronta e as condições em que se obrigou por termo, e da acta da sessão de 30 de Abril do corrente anno, ou dar trânsito livre pela estrada antiga”.

A Estrada Real estava ainda entre as principais vias de comunicação localizadas na Fazenda Bom Sucesso no município de Paracatu. Destaca o agrimensor Pedro Laborne no memorial descritivo da fazenda: “Na estrada real, muito transitada, trafegam carros de bois perfeitamente bem, graças a natureza do terreno”.


A histórica Estrada Real também fez divisa com a Fazenda Pouso Alegre no município de Paracatu. No edital de divisão da respectiva fazenda, publicado no Diário Oficial Minas Gerais de 7 de janeiro de 1922 em sua página de nº 8, menciona-se: “O immóvel, que se compõe de terras de cultura e campos, tem as divisas seguintes: Pelo nascente, com terras de herança de José Pedro de Queiroz, pela estrada real de Goyas e pelo poente pela serra da chapada, quando verte para o córrego do Barreiro e Patrimônio […]”.

Os documentos por hora referenciados e que ilustram de forma muito criteriosa a existência e a utilidade da Estrada Real em Paracatu, revelam-na, portanto, como um importante elo entre Minas e Goiás, tanto do ponto de vista histórico quanto econômico e social.

Carlos Lima é graduado em Arquivologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBa), é Pós-Graduado em Oracle, Java e Gerência de Projeto e é conservador e restaurador de documentos. Elaborou este artigo a partir de suas pesquisas nos fundos documentais do Arquivo Público de Paracatu – MG.
Referências
CÂMARA MUNICIPAL DE PARACATU. Abaixo-assinado para reabertura da Estrada Real de Paracatu. Cx. 20. 1877. 1 fl.
COMARCA DE PARACATU. Processo de Divisão da Fazenda Bom Sucesso. Cx. D-03. 1921. 216 fls.
COMARCA DE PARACATU. Processo de Divisão da Fazenda Pouso Alegre. Cx. D-03. 1921. 476 fls.