Bandeira do Município de Paracatu – MG

Por: Carlos Lima (*Arquivista)

Foi durante uma pesquisa em um manuscrito eclesiástico do século XVIII, diga-se de passagem, um dos mais antigos sob a responsabilidade do Poder Público local, que uma marca d’água gravada no deteriorado e raro documento, possibilitou uma analogia direta com o brasão oficial do município de Paracatu.

Segundo Antônio de Oliveira Mello, em seu livro Paracatu do Príncipe: Minha Terra (1978), o Brasão de Paracatu apresenta-se “em preto e branco de acordo com o desenho achado do original; e em cores, já com modificações introduzidas e hoje oficializado”, destaca o notável escritor.

Brasão português gravado no Manuscrito de 1749, de denúncia de Francisco Rodrigues Fraga contra José dos Santos Freyre, sobre sequestro de carga de molhados

A marca d’água identificada às folhas 9, 11,  13 e 16 do manuscrito referente à denúncia impetrada em 1749 por Francisco Rodrigues Fraga contra José dos Santos Freyre sobre um sequestro de uma carga de molhados, teria sido provavelmente a fundamentação necessária para a elaboração do brasão oficial de Paracatu em ano até então desconhecido.

A semelhança verificada entre o símbolo adotado pela municipalidade local em sua bandeira e o brasão presente sob a forma de marca d’água nos preciosos manuscritos eclesiásticos é tal que suscitou um levantamento preliminar sobre esta última, que por sua vez e cujo desenho, tem estrita relação com o brasão de armas de Portugal.

Sem aprofundar a análise sob o ponto de vista da heráldica – ciência vocacionada ao estudo, dentro outros, dos brasões – há referências que levam a crer que a marca d’água gravada nos manuscritos em voga teria procedência portuguesa, haja vista sua comparação com os brasões de armas disponíveis em sítios especializados na Internet.

A versão original do brasão de Paracatu, em preto e branco, como descreve MELLO (1978), guarda maior semelhança com o brasão português localizado na petição de denúncia datada de meados do século XVIII. Houve, na verdade, adaptações quanto aos elementos dispostos no desenho, como por exemplo a inclusão da letra P em substituição a cruz da ordem de Cristo e também dos besantes existentes no escudete da versão portuguesa.

O brasão de Paracatu nas versões preto e branco (original) e colorido (oficial)

O brasão de armas colorido e oficializado pelo poder público municipal em Paracatu, sofreu mais algumas alterações, com a retirada dos besantes no escudete na versão preto e branca, para inserção dos desenhos da palmeira imperial, da espiga de milho e do que supostamente poderia ser uma referência ao sacerdote, além de algumas simplificações que podem ser constatadas na imagem comparativa das versões paracatuenses.

Brasão de Portugal extraído da Internet

Os manuscritos, cuja marca d’água é por certo o brasão de armas de Portugal, visível com maior propriedade através da reflexão de luz, remetem ao período em que o Brasil era uma colônia daquele país, de forma que a Comarca Eclesiástica da Manga, localizada no então Arraial de São Luiz e Sant’Anna do Paracatu, empregava em seus atos oficiais o papel com a tipografia assim caracterizada.

(*) Carlos Lima é graduado em Arquivologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBa), é Pós-Graduado em Oracle, Java e Gerência de Projeto e é conservador e restaurador de documentos. Elaborou este artigo a partir de suas pesquisas nos fundos documentais do Arquivo Público de Paracatu – MG.

Referências:

LIMA, Carlos E. Gomes. O sequestro da carga que rendeu uma denúncia à Comarca Eclesiástica da Manga em Paracatu. Disponível em: < https://paracatumemoria.wordpress.com/2022/05/24/o-suposto-sequestro-da-carga-que-rendeu-uma-denuncia-a-comarca-eclesiastica-da-manga-em-paracatu/ >. Acesso em: 28 maio 2022.

MELLO, Antônio de O. Paracatu do Príncipe: Minha Terra. Paracatu: Academia Patense de Letras, 1978. 144p.

TRIBUNAL ECLESIÁSTICO. Denúncia de Francisco Rodrigues Fraga contra José dos Santos Freyre.Cx. 25. 1748. 9 fls. A New Greenfil. O Escudo Português. Disponível em: https://www.newgreenfil.com/pages/-o-escudo-portugues-. Acesso em: 26 maio 2022.

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