
Por: Carlos Lima (*)
A imponência da Igreja Matriz de Santo Antônio da Manga destaca-se na imagem captada pelas lentes do saudoso fotógrafo, escritor e professor Olímpio Michael Gonzaga, que retratam uma Paracatu lá do início do século passado enaltecida por granfinas edificações coloniais em meio à beleza e o vigor da vegetação outrora existente.
Dividem a cena com o majestoso templo católico do século XVIII muitas árvores, inclusive as cinco famosas palmeiras imperiais a sua esquerda, das quais hoje resta somente 1. Nas imediações, localizam-se suntuosos casarões, os quais revelam o poderio econômico de algumas famílias que habitaram, entre outros logradouros, no Largo da Matriz, na velha rua Direita (Rua Joaquim Silva Pereira), Rua do Córrego (Rio Grande do Sul) e Largo da Jaqueira naquelas longínquas datas.

Do hoje tão bem esquadrinhado e valorizado Bairro Alto do Córrego – outrora um extenso e inabitado morro – Gonzaga empreendera seu talento profissional e de posse de seu eficaz e robusto equipamento fotográfico, eternizara a parte mais central do glamoroso e íntegro Núcleo Histórico de Paracatu, como é mais conhecido nos dias atuais. Em outros registros, o nobre fotógrafo também dera longevidade a outros importantes patrimônios de sua cidade.
Aspectos examinados a partir da própria foto levam a crer que aquele momento teria sido clicado na década de 1920, haja vista que a qualidade da imagem não é das melhores, a integridade do casario de época é notável e, em particular, vê-se à esquerda, o sobrado de Casa de Câmara e Cadeia Pública ainda de pé (bem ao lado do hoje Museu Histórico). Teria sido demolido aquele ícone prédio do poder público provavelmente entre 1920 e 1930, conforme levantamentos arquivísticos.
Fotografado pelos fundos, assim como a maior parte das edificações, vê-se o Mercado Municipal, com suas diversas portas interiores e que servira de espaço para a comercialização de mercadorias entre os anos 1903 e 1935, como constam dos registros históricos apontados por LIMA (2011) em seu artigo A Feira de Paracatu: História, turismo e o Mercado. Além de abrigar outras repartições públicas, o rústico casarão passara a sediar o Museu Histórico Municipal desde 2000, após laborioso restauro e adequação de sua estrutura.
Diversos quintais e telhados chamam atenção e primam pela grandeza e volumetria com que se impuseram, ao longo de décadas, naquele majestoso e atrativo endereço histórico de Paracatu, à exemplo do casarão construído por ordem do Coronel Fortunato Jacinto Botelho localizado no Largo da Jaqueira (imóvel muito bem preservado) e a outrora esplendorosa residência do Sr. Juca Botelho na Rua do Córrego (hoje Rua Rio Grande do Sul) que fora destruída para dar lugar ao prédio e dependências onde se encontra o Colégio Dom Elizeu.
Uma jóia rara de se contemplar é a centenária imagem de autoria do Sr. Olímpio Gonzaga, o qual fez questão de se enquadrar na sua própria arte, logo no rodapé e de posse de seus primorosos instrumentos de trabalho. O legado iconográfico do respeitado fotógrafo, tão bem preservado pelo Arquivo Público Muinicipal de quem ele (Olímpio) é o patrono, possibilita à comunidade uma profunda imersão no tempo em que a arquitetura colonial e o bucolismo garantiam toda a pompa para afamada Atenas Mineira, Paracatu.
(*) Carlos Lima é graduado em Arquivologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBa), é Pós-Graduado em Oracle, Java e Gerência de Projeto e é conservador e restaurador de documentos. Elaborou este artigo a partir de suas pesquisas nos fundos documentais do Arquivo Público de Paracatu – MG.
REFERÊNCIA
LIMA, Carlos E. G. A Feira de Paracatu: História, turismo e o Mercado. Jul. 2011. Disponível em: < https://paracatumemoria.wordpress.com/2011/07/08/a-feira-de-paracatu-historia-turismo-e-mercado/ >. Acesso em 29 Jul. 2022
MELLO, Antônio de O. Paracatu do tempo em tempo. Paracatu: Prefeitura Municipal, 2001. 152 p.
PARACATU. SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA. Inventário de Proteção ao Acervo Cultural – Paracatu/MG: Estruturas Arquitetônicas e Urbanísticas. Paracatu: Carolina Costa Moreira dos Santos & Adriana Paiva de Assis – Consultoria na Área do Patrimônio Cultural, 2008.
Sobre a foto: Imagem colorizada através do site DeepAI