Por: Carlos Lima (*Arquivista)
Na primeira metade do século passado, grandes eram os desafios para deslocar-se de Paracatu rumo a capital Belo Horizonte: Além da longa distância por estradas não pavimentadas, eram necessários uma travessia de balsa sobre o Rio Paracatu e o embarque num trem ao longo do percurso, para chegar sem muita pressa até o destino pretendido.
Relatório financeiro de uma viagem realizada em 1936 pelo então Prefeito de Paracatu, Romualdo Ulhôa Tomba, a fim de participar de diversos compromissos políticos em Belo Horizonte, apresentara, dentre outras informações relevantes, os gastos necessários para a consecução daquele extenso deslocamento pelas Minas Gerais, acessíveis graças às indispensáveis e colossais linhas férreas de outrora.
Infere-se do relatório assinado pelo próprio Tomba em 18 de novembro de 1936, bem como de outras fontes de pesquisa, que de Paracatu até Belo Horizonte transitava-se de automóvel por aproximados 357 quilômetros de estrada de terra até a Estação de Catiara (hoje distrito de Serra do Salitre), a partir da qual era possível seguir viagem de trem pela Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM, incorporada mais tarde pela RMV-Rede Mineira de Viação) até aquele importante destino.
Do mesmo documento, fruto de incursões junto ao acervo do Arquivo Público Municipal de Paracatu, verificam-se preciosos detalhes da viagem realizada pelo saudoso Prefeito, como por exemplo a parada para almoço em São Pedro da Ponte Firme (hoje distrito de Presidente Olegário), o pernoite em Patos de Minas, o embarque no vagão tipo leito no trem em Catiara (naquela época importante entreposto comercial), o jantar em Ibiá e o desembarque em Belo Horizonte.
As despesas contraídas por Tomba e saudadas pelos cofres da municipalidade, contabilizadas em pouco mais que 2 mil réis, incluíram até mesmo a lavagem de suas roupas, vez que o período em que o então chefe do executivo estivera distante de seu gabinete totalizava 40 dias. Constam ainda do relatório datiloscrito, os custos com sua estadia no Grande Hotel e com o transporte até as obras de uma barragem, o campo de aviação e o matadouro na capital mineira.
A viagem realizada pelo Prefeito Tomba na década de 1930, grande parte dela sobre os trilhos outrora tão cruciais para a mobilidade e para o progresso, é um vestígio dos tempos áureos das ferrovias brasileiras. Esse nostálgico e sustentável meio de transporte, notadamente o de passageiros, chegaria ao seu destino final durante a segunda metade do século XX, em decorrência da falta de grandes investimentos que lhe garantissem uma modernização capaz de fazer frente ao transporte rodoviário, que a partir de 1950 já figurava, especialmente para seus defensores, como aquele que viria a proporcionar os deslocamentos mais rápidos e abrangentes.
(*) Carlos Lima é graduado em Arquivologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBa), é Pós-Graduado em Oracle, Java e Gerência de Projeto e é conservador e restaurador de documentos. Elaborou este artigo a partir de suas pesquisas nos fundos documentais do Arquivo Público de Paracatu – MG.
REFERÊNCIAS
PREFEITURA MUNICIPAL DE PARACATU. Relatório das despesas feitas pelo Prefeito Romualdo Ulhôa Tomba, com sua viagem e estadia em Belo horizonte, durante quarenta dias. Paracatu.1936. 1 fl.
PRESIDENTE OLEGÁRIO. Histórico de Presidente Olegário. Disponível em: < https://presidenteolegario.mg.gov.br/historico/ > . Acesso em: 04 Ago. 2022
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