
Por: Carlos Lima (*Arquivista)
A foto panorâmica lá da década de 1960, preservada há anos pelo escritor paracatuense Antônio de Oliveira Mello em sua residência em Patos de Minas e mais tarde alienada para fazer parte do acervo iconográfico do Arquivo Público Municipal desde 2016, é sem dúvida um contundente documento sobre a imponência do Núcleo Histórico de Paracatu, entre outros aspectos arquitetônicos e naturais.
À exceção da antiga rua Direita (hoje Joaquim Silva Pereira), que não foi captada pela câmera do corajoso fotográfo a bordo de um avião, observam-se na histórica imagem os logradouros por onde se davam os principais deslocamentos no centro antigo da cidade. Da extremidade inferior do rico registro, partem a antiga rua das Flores (Dr. Sérgio Ulhôa) que se conectava com a Avenida Nova República (atual Dep. Quintino Vargas) por um estreito beco naquela época, a Rua do Ávila, a rua Goiás que se encontra com a Rua da Capelinha até chegar ao Cemitério da Santa Cruz, a rua do Peres (Américo Macedo, atualmente) perpendicular à rua Manoel Caetano, através da qual se chegava ao outrora amplo largo da Abadia (Praça do Fórum).
O flagrante feito a partir dos céus também denuncia históricas e não menos imprescindíveis vias de circulação como a Rua da Praça (hoje Temístocles Rocha) perpendicular à Travessa dos Rocha que a ligava ao Largo do Matriz, a Rua Getúlio de Melo Franco por meio da qual se alcançava a Avenida Olegário Maciel, ainda encascalhada e com uma largura de dar gosto.
Visto de cima, o arruamento do Núcleo Histórico de Paracatu apresenta-se muito bem alinhado, sem invasões do espaço público ou de calçadas, que por vezes são confundidas com área particular, como ocorre sem controle nos dias atuais em alguns bairros da cidade, em que o pedestre se vê obrigado a concorrer com os veículos pelas ruas, por estarem os espaços a ele destinados obstruídos ou ocupadas de forma irregular.
Outros aspectos notáveis da imagem aérea são as águas do Córrego Rico, que hoje “choram” por sua nascente e padecem gradualmente ao longo do seu curso, a Picada de Goiás que se destaca na serra rumo à Cristalina, o Cemitério da Santa Cruz muito bem esquadrinhado e regido pelo cruzeiro logo a sua frente, a pista de pouso e decolagens que mais tarde daria origem ao promissor Bairro Bela Vista e o tradicional circuito de corridas do Jóquei Clube Paracatuense.
O desenho urbano do Núcleo Histórico de Paracatu, ainda que com pequenos gargalos que ao longo dos anos foram resolvidos às custas da demolição e/ou alteração do seu precioso casario histórico, em nada perde para a arquitetura moderna e nem sempre amigável presente em outras partes da cidade. O cartão postal imagético da década de 1960 é a prova da resiliência do patrimônio histórico urbanístico e o diferencial paisagístico que torna Paracatu a jóia rara do Cerrado Mineiro.
(*) Carlos Lima é graduado em Arquivologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBa), é Pós-Graduado em Oracle, Java e Gerência de Projeto e é conservador e restaurador de documentos. Elaborou este artigo a partir de suas pesquisas nos fundos documentais do Arquivo Público de Paracatu – MG, com publicações no site https://paracatumemoria.wordpress.com/