
Por: Carlos Lima (*Arquivista)
Principal ligação entre a movimentada Rua Goiás (caminho para o “Goiáz”) e o Largo do Chafariz com o seu outrora imponente sobrado de Casa de Câmara e Cadeia (demolido na década de 1920), a antiga Rua São Domingos tivera sua denominação alterada em homenagem ao Capitão e também Presidente e Agente Executivo Municipal Samuel Rocha, que governara Paracatu no biênio 1914-1915.

Fotografias criteriosamente preservadas no acervo do Guardião da Memória Regional, o Arquivo Público de Paracatu, revelam muitos detalhes e curiosidades da histórica Rua Samuel Rocha, cujo casario dispõe-se de modo harmonioso e salutar no logradouro razoavelmente inclinado.
As edificações daquela nostálgica e importante via eram, em tempos pretéritos, marcadas pela originalidade à arquitetura colonial: Suas testadas preservavam todos os quesitos, isto é, o beiral do telhado bem produzido, o teor artístico na elaboração das portas e janelas, o reboco não sarrafeado da parede, e a predominância de habitações germinadas (ausência de vãos, corredores, que as separassem!).
A pavimentação da pacata Rua São Domingos, lá na primeira metade do século XX, guardava consigo a irregularidade desenhada pela junção de “pedras de rio” alí instaladas à mão e marreta. À direita de quem desce por aquela rua, localiza-se o beco do Sinhô Candinho ou Beco do Ranulfo, o qual ostenta o status de ponto turístico já que conserva seu belo e raro calçamento à pedra. Dele, é possível avistar a bela Igreja do Rosário.

O trânsito por aquela via era predominantemente de pedestres ou de veículos de tração animal, já que raros eram os automóveis nestas paragens. Até bicicleta era privilégio de poucos. Na então rua que protagoniza este artigo, as pessoas circulavam livremente e as calçadas ainda estavam a surgir, certamente uma novidade que tempos depois faria uma grande diferença para a mobilidade das pessoas, não fossem, é claro, os obstáculos e puxadinhos de toda sorte que vão se estabelecendo impunemente sobre elas nos dias atuais.
O paisagismo de outros tempos destacava-se, dentre outros aspectos, pela simplicidade da infraestrutura e pela ausência da poluição visual, hoje cada vez mais agressiva com tantos cabos, fios, placas, postes e outros recursos característicos da vida moderna. Serviam os rústicos postes de madeira, eternizados nas fotos daqueles calmos tempos, para a comunicação via telégrafo e também para uma incipiente iluminação pública que atendia um reduzido número de contribuintes.
Embora o brilho estético e cultural da velha rua São Domingos não tenha sido completamente ofuscado pelo avançar dos anos, já que uma parcela considerável das edificações históricas ainda se mantém de pé e se conserva graças à proteção dos órgãos competentes e ao zelo de seus proprietários, a substituição da pavimentação de pedras pela asfáltica trouxe um grande prejuízo à memória e à paisagem daquele belo e imponente espaço urbano, que poderia ser revitalizado com a adoção de políticas de preservação e restauro de bens arquitetônicos, que apresentassem uma modelo de calçamento harmônico com o casario e a história da cidade.
(*) Carlos Lima é graduado em Arquivologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBa), é Pós-Graduado em Oracle, Java e Gerência de Projeto e é pesquisador da história e da cultura de Paracatu.
Referência
Câmara Municipal de Paracatu. Livro ATA de Sessão da Câmara Municipal de Paracatu no período 1914-1920. 16 jan. 1914. 101 fls.
Rua Samuel Rocha, e o caminhão parada era do meu pai Geraldo Rabelo de Souza! Ah ! parado ma porta de nossa casa! Onde fomos os 7 filhos criados!
Que bela recordação, Senhora Teresa Cristina. Ficamos muito felizes em saber que a bela foto trouxe-lhe uma grande lembrança do seu passado familiar. Agradecemos pela leitura do artigo!