
Por: Carlos Lima (*Arquivista)
O surgimento dos bairros encontra fundamentação, quase que sempre, nos processos de divisão de terra, emanados das atividades cotidianas da Justiça Comum. Por esse viés e num contexto local, descobre-se, por exemplo, a origem do conjunto habitacional Vida Nova, que nasceu em terras desmembradas da vizinha Fazenda Frutuoso e transferidas ao domínio da União, conforme apontam o pesquisador e genealogista Eduardo Rocha (72) e o engenheiro civil e perito Leonel Santiago (58).
O dossiê da divisão da Fazenda Frutuoso, disponível à consulta através do Arquivo Público Municipal Olímpio Michael Gonzaga em Paracatu, traz diversos detalhes sobre a histórica propriedade, como os nomes de seus primeiros proprietários, o Sr. Joaquim Pereira da Costa e sua mulher Dona Franklina de Pina Vasconcellos, que constam do traslado da escritura de compra e venda à folha 5 da documentação.

A localização da também denominada Chácara Frutuoso, é descrita como “a Nordeste desta cidade [de Paracatu] a cerca de 4 quilômetros de distância, aproximadamente”, conforme menciona o agrimensor Romualdo Ulhôa Tomba no memorial descritivo disponível à folha 44 do processo de divisão. Com relação à área, ele registra à folha 45 verso que tem um “total de 793 hectares. Sendo 409 hectares de terrenos de cultura, em matas, capoeiras, invernadas e cultivadas; 105 hectares de terrenos de cerrados de bôa qualidade, bem empastados, e, finalmente 279 hectares de campos naturais e cerrados, de qualidade inferior”.
O competente agrimensor ainda relata, na folha 45 do extenso documento elaborado em 1948, as qualidades da promissora fazenda: “as indústrias agro-pecuária e extrativas, poderão ser alí grandemente desenvolvidas, visto prestarem os terrenos para a cultura de cereais, cana-de-açúcar, mandioca, banana, frutas, legumes, hervas, batatas, etc. Os pastos de variadas qualidades e resistentes, garantem a alimentação do gado, pelo que a criação poderá ter grande desenvolvimento”.

Às folhas 45 e 45 verso do raro manuscrito, o Sr. Tomba complementa que o imóvel “é servido pela estrada de automóvel que vai ao Porto do Buriti” [no Rio Paracatu] e ainda declara que “os transportes de cereais, madeira, lenha, leite e outras produções, dentro do imóvel e mesmo para esta cidade são feitos por carros puxados a bois, carroças e cargueiros, podendo, entretanto, sem grandes dificuldades, ser usados veículos de tração motriz”.
Sobre a hidrografia alí encontrada naquelas prósperas terras da Fazenda Frutuoso, escreve à folha 45 o também saudoso Prefeito de Paracatu em 1936 e 1946, Sr. Tomba: “é banhado pelos córregos Neto ou Maracujá, Olaria, Benedito e Tomé Pinto. […] Todos eles de pequeno volume d’água, porém, perenes. Em seus cursos não existem cachoeiras ou quedas aproveitáveis para fins industriais”.

O conjunto habitacional Vida Nova nasceu através do programa do Governo Federal “Minha Casa Minha Vida Entidades” em parceria com a Agência de Desenvolvimento Sustentável do Vale do Paracatu (AGEVALE), a quem coube a execução do projeto e a construção de 200 moradias, ainda não ocupadas em virtude da não efetivação do fornecimento de energia elétrica por parte da CEMIG ao empreendimento, de acordo com informações obtidas junto ao Secretário Municipal de Infraestrutura, Sr. Pedro Adjuto (43).
(*) Carlos Lima é graduado em Arquivologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBa), é Pós-Graduado em Oracle, Java e Gerência de Projeto e é pesquisador da história e da cultura de Paracatu.
Referências
COMARCA DE PARACATU. Processo de Divisão da Fazenda Frutuoso. 1944. Cx. 32. 97 fls.
Agradecimentos aos Srs. Leonel Santiago, Eduardo Rocha e Pedro Adjuto pelas contribuições.