Rua do Ávila: À esquerda, casarão construído entre 1854 e 1857 pelo Coronel Domingos Pimentel de Ulhôa e atualmente abriga a Casa da Cultura

Por: Carlos Lima(*Arquivista)

A bicentenária rua que abriga em parceria com o bucólico Largo da Jaqueira a Casa da Cultura – um dos mais afamados e concorridos cartões postais da cidade – mantém, além do seu belo e imponente patrimônio arquitetônico, uma tradição que não se vê na grande maioria dos logradouros públicos de Paracatu: A denominação rua do Ávila venceu o tempo, os interesses políticos e o apelo da modernidade, de forma que sua nomenclatura permanece fiel às origens e inalterada até aos dias de hoje.

Imóvel de Joãozinho Dentista e Dona Nicota embeleza a rua do Ávila
Manuscrito lista os imóveis da rua do Ávila em 1811

Fotografias do século passado exibem uma via bastante rústica composta por um casario íntegro e, em grande parte, de estilo colonial, em consonância com uma rua calçada à pedra de rio, que mais tarde fora totalmente trocada pelo tão famigerado asfalto, que embora não agregue nenhum valor histórico e paisagístico àquele notável patrimônio, trouxe o esperado conforto para os pés e para as rodas, argumentam muitos cidadãos.

No ano de 1811, pelo menos 45 imóveis ocupavam aquela nostálgica rua, apontam dados extraídos com grande perícia de um códice manuscrito denominado Arruamento da Vila de Paracatu do Príncipe, que também traz a relação de proprietários e o imposto a ser recolhido por eles aos cofres municipais. O raro documento encontra-se sob os auspícios do Arquivo Público Municipal localizado na também histórica rua Temístocles Rocha.

Anúncio no jornal: Casa de Yayá, na Rua do Ávila

A natureza fora muito generosa com a formação da paisagem adjacente à rua do Ávila: Além de um córrego que a separa da antiga rua das Flores (hoje Dr. Sérgio Ulhôa!), árvores frondosas e especialmente frutíferas servem de abrigo para a fauna existente e garantem um ar bucólico às residências que ali se encontram.

Rua do Ávila: Algumas calçadas ecologicamente corretas (grama e concreto) já em 1981

Como via de acesso ocupada em sua essência por residências, a rua do Ávila também se destaca pelos eventos nela já realizados, como os festejos promovidos pelos próprios moradores em homenagem a São João, que por aqui acontecem no mês de julho (diferentemente do Nordeste do Brasil, que ocorrem em junho) e o tradicional Carnaval de Outrora, cujo palco é instalado no Largo da Jaqueira para melhor concentração dos foliões, que também terminam por acomodar-se na calma rua destacada por este artigo.

Em restauro: Coral Stela Maris e ao lado, a Academia de Letras.

Uma política pública de preservação e revitalização do Núcleo Histórico de Paracatu empreendida pela Prefeitura Municipal e possível graças ao emprego de recursos arrecadados com multas aplicadas pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais, tem sido adotada com o intuito de restabelecer a harmonia das edificações com suas origens. Na rua do Ávila, por exemplo, os imóveis do Coral Stella Maris e da Academia de Letras passam por um indispensável restauro, com destaque para sua nova calçada toda em pedra, algo encantador e digno de aplausos.

Fontes de pesquisa acerca da denominação escolhida para a histórica e tranquila rua do Ávila infelizmente ainda não são conhecidas, no entanto, é razoável supor que seu “batismo” tenha alguma relação com o aspecto de vilarejo do hoje município, já que fora elevado à categoria de Vila de Paracatu do Príncipe em 1798 e como tal, permanecera até 1840.

(*) Carlos Lima é graduado em Arquivologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBa), é Pós-Graduado em Oracle, Java e Gerência de Projeto e é pesquisador da história e da cultura de Paracatu.

Referência

Câmara Municipal de Paracatu. Arruamento da Vila de Paracatu do Príncipe. 1811. 47 fls.

Folha Noroeste. Anfiteatro: Tão novo e já em ruínas. 04 Dez. 2000. 12p.

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