
Por: Carlos Lima (*Arquivista)
O cenário nostálgico e bem marcante de mais de 4 décadas atrás reconstrói na memória alheia uma parcela não só da rotina das pessoas, mas também de um conjunto de edificações muito bem acomodadas e harmonizadas num dos bairros mais antigos e tradicionais de Paracatu, o Sant’Anna.
O genial e desconhecido fotógrafo enquadrou, num certeiro click com seu instrumento primaz de trabalho, aspectos do cotidiano, da natureza, da arquitetura e da condição climática daquele dia. Uma imagem que sem sombras de dúvidas permitiria, anos mais, tarde uma prazerosa viagem ao passado do histórico Largo do Sant’Anna.
Muitas impressões saltam aos olhos quando se “lê” a rica foto publicada por aquela edição do Jornal de Brasília em matéria policial sobre Paracatu : A irrelevância dos veículos àquela época propiciava, pelo menos no Sant’Anna, um ambiente tão calmo e seguro que as crianças dominavam o trânsito com seu pneus tocados à mão, como denuncia a imagem. Apenas um fusca ocupava lugar naquele registro imagético.
O conjunto de edificações em estilo colonial tradicional ali remanescentes era perfeito: Telhados, portas, janelas e acabamentos, guardadas as devidas proporções do que a fotografia permite extrair, revelam uma combinação notadamente harmoniosa entre si. Uma imponência que já não se vê nos dias de hoje, em virtude das mudanças ocasionadas pela modernidade.
A natureza também está eternizada no documento: A frondosa palmeira imperial ocupava lugar de destaque na ornamentação do velho largo e as mangueiras e outras árvores frutíferas compunham o cenário típico e bucólico dos quintais na década de 1980. Embora naquele ano o asfalto já estivesse presente nas ruas do bairro, os canteiros ocupavam espaço maior e muito contribuíam com a absorção das águas pluviais.
Da histórica foto extraída de uma publicação periódica, permanecem as lembranças do dia à dia tranquilo do bairro, das salutares brincadeiras da molecada no meio da rua, da natureza impecável em vias públicas e nos quintais das residências e comércios, e da íntegra e modesta arquitetura de época que alí predominou por mais algum tempo.
(*) Carlos Lima é graduado em Arquivologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBa), é Pós-Graduado em Oracle, Java e Gerência de Projeto e é conservador e restaurador de documentos. Elaborou este artigo a partir de suas pesquisas nos fundos documentais do Arquivo Público de Paracatu – MG.
Referência:
JORNAL DE BRASÍLIA. Brasília, p. 1. 16 de maio 1980
Nota: Imagem tratada através de software do Portal DeepAi